9 de setembro de 2025

Um apelido

 

 Há homens que compram, vendem e, até escambam
Há homens que plantam, semeiam e, às vezes, colhem
Há homens que criam, tangem e matam o gado
Há homens que advogam, defendem perversos matadores.
 
Há mulheres que gerenciam escolas e porque não uma prefeitura
Há mulheres que geram, amamentam seus filhos e dos filhos outros
Há mulheres centenárias que nascem para dona de casa e professora primária
Há mulheres que pintam, bordam e montam barracas de quermesse
Há mulheres que assam e enfeitam mesas fartas de doces e salgados.
 
Há um rio que corre silenciosamente na cidade que moro
Hoje não corre mais como corria antigamente na minha cidade
Continua correndo sim com suas águas doces e silenciosas
Mas não é mais o rio Doce que corria na minha infância breve.
 
Há um homem que vive para animar festas, encontros e carnavais
Que nunca teve um nome nem mesmo um sobrenome
Filho de tal um roceiro lá do alto de uma serra
Porque homem de verdade não precisa saber de onde veio
Nem para onde ainda acredita ou pensa que vai.
 
Basta apenas dizer o seu apelido muito esquisito Capachildo.


(Homenagem ao patrono da Casa de Memórias - Primeiro Museu de Memória de Conselheiro Pena - Minas Gerais, que será inaugurado no dia 12 de setembro de 2025)

17 de julho de 2025

Pequenos poemas

 

subjetivismo e particularidades

 

o espelho

a meus filhos, o que há de vir
e de resto mais nada
tenho apenas a água e o barro.

 a imagem e a semelhança, faltam-me.

 

o próximo

enquanto escrevo este poema
morre mais um morador do Vidigal.

na Rocinha, traficante mata policial.

não vou escrever mais versos
preciso ficar mais atento
o próximo a morrer pode ser eu.

 

os antigos

 um mal temporário
é quando se tem diarreia
por comer muito no dia anterior

o que o nosso país está passando
vai durar muitas, e muitas gerações.

 e olhe lá, se não durar mais que o tempo
assim dizia um ditado muito antigo

 

os contrários

dito e feito
quando dois querem
tudo acontece mesmo.

os contrários precisam existir
entre si e de maneira real
para grudar e se entender.

 

para o alto

os barcos, na minha infância,
navegavam à céu aberto.


mar revolto, nunca vi!

nasci ao pé de montanhas
no quintal de casa, galos e varais.

 todos os dias, só olhava para o alto.

(aguardem os próximos poemas do meu livro eletrônico inédito: "Pequenos poemas")


23 de junho de 2025

Pequenos poemas

 

a transitoriedade e a realidade

 

 

ledo engano

 

quem pensa o morro do Rio de Janeiro
assassina muitos inocentes
nunca ficou defronte da televisão
vendo uma reunião do congresso
no dia que tem votação ao vivo.
 

aquilo ali sim, é chacina cruel!

 

leito esplêndido

o rio Doce dorme em seu leito esplêndido
agora a água que desce boi não bebe
peixes e crustáceos não respiram.

morre a cada manhã
solitário e silencioso
não tem mais banhistas em suas margens.

linguagens

não precisa falar que está gostando
faz apenas um sinal qualquer
- eu sou um bom entendedor
fiz curso rápido de libras
e outro bem intensivo de elétrica.

 

maria-fumaça

a minha vida toda
andei de trem
quando nasci
os trilhos passavam
perto da janela do quarto
onde eu dormia e crescia

o apito, a fumaça pareciam magia
antes mesmo do cinema
existir e perpetuar as imagens
o solavanco dos vagões
a vagareza da máquina
deslizando suavemente
tudo era só encantamento.

ainda sinto o cheiro do capim
balançando entre os trilhos
e os dormentes de madeira.


minha avó e a vaidade

minha avó Filinha era muito lúcida
sabia como ninguém aproveitar a vida
depois de criar sete filhos sozinha.
 

ela gostava mesmo era pentear
os cabelos grisalhos todas as tardes.

 

não adianta mais...

quando alguma coisa dava errado
meu pai dizia: "agora a Inês é morta"
 em Portugal, não é bem assim não!

a Inês mesmo morta foi coroada rainha.

 

moradores do congresso

se a Espanha tem a Catalunha
que quer a liberdade
nós, aqui, no Brasil
queremos ficar livres
dos corruptos moradores do congresso.

a insatisfação é a mesma
só em continentes diferentes.

 

 

não é bem assim

meu caro, não fique lamentando!
o rico tem mordomos, carros e iate
parece até que tem tudo e do melhor
mas, não é bem assim, não tem amigos!

 

não era

não era para ser assim
alguma coisa no meio do caminho
fez o trem sair dos trilhos ... o que eu não sei...

a vida continua... não era para ser assim...

 

o espiral e o tempo

não me pertence
tudo que fui não sou mais
virou um enorme deserto
todos os lados que olho
parecem distantes e vazios.

por onde andei não ando mais
os pés cansados e os olhos embaçados
caminho por estradas tortuosas
que me levam para lugares sinistros
o tempo está a toda hora mais escasso
os meus segredos já foram revelados
as minhas palavras já foram escritas
tudo que penso não vale mais nada
agora eu vou dormir e esperar a noite
nem o sono não me pertence mais.

 

não quero não!

se merece condenação
quem fala de saudade
prefiro prisão perpétua!

morrer, não quero não!

nem alimentar saudade que nunca tive
o meu passado não me condena.

 

não se repetem

 às vezes, os dias duram pouco
muito pouco mesmo!
mas, não se repetem nunca.

a nossa memória pensa o contrário.

 

nem túnel nem fim

tolice pensar que vai melhorar
sinto muito ter que dizer isso!

os corruptos são protegidos
e os honestos não conseguem unir.


(aguardem os próximos poemas do meu livro eletrônico inédito: Pequenos poemas)

16 de junho de 2025

Pequenos poemas

 

identidades e sementes

 

lápis e caneta

sempre fui cuidadoso e discreto
para escrever as poesias rimadas
usava sempre lápis
para os versos livres e soltos
usava a caneta preta com tinta azul
do tinteiro da famosa marca "Parker"
caderno e um compasso mais caro

 não precisava de mais nada
e foi só com isso que aprendi a ler e sonhar


lápis e compasso

quando estudava no grupo escolar
Maria Guilhermina Pena
a professora pedia apenas lápis

(aguarde os próximos poemas do meu livro inédito: "Pequenos Poemas")

 

25 de maio de 2025

Pequenos poemas

 

relações
e suscetibilidades

 

 

frágeis

parece mentira
as relações hoje
são frágeis e inconstantes
um simples olhar mais torto
põe-se tudo a perder.

fragilidades

 quando escorre entre os dedos
todas as possibilidades
num só instante.

o tempo prevalece
e o agora desaparece.

não há volta nem futuras chances.

 

graves e agudos

o tempo não está mais curto
pelo contrário, é o mesmo
desde as priscas eras da caverna.

 somos nós que ficamos mais graves e agudos.

 

insanidade

amor não mata
não agride
nem bate
é a insanidade humana 

não é amor não!

 

inteiro

nunca esqueci minha identidade
migrei inteiro e, assumido,
levei comigo as raízes e os frutos.

 minha humanidade e civilidade
veio quando fui formado no barro.

 – isso, ninguém tira de mim!


já chegou

segunda-feira, acorda...
daqui a pouco dezembro já chegou
o ano acabou
o ano novo bate à porta.

– não desanima não, a fila anda!


(aguarde os próximos poemas deste livro eletrônico inédito "Pequenos Poemas")

20 de maio de 2025

Pequenos Poemas

                     a cidade

                    e suas gentes

 

casarões

arranha-céus, coberturas, triplex
até um apartamento por andar
os habitantes distintos dos casarões
vivem, na verdade, em mundos distintos
 

todos juntos e sempre separados

 

cortava tudo

o Geraldo percorria as ruas da cidade
oferecendo sua força e sua lida
podia-se ouvir de longe a batida
do ferro da cunha no machado afiado

 nesse tempo, o mundo, não era torto
o grito daquele moço cortava tudo

 

esporas de cruzeta

morei na rua onde
passava o boi marrento
que levava o outro boi
para o matadouro
o vaqueiro com os pés descalços
e as esporas de cruzeta
fazia o trajeto cantarolando
como estivesse pisando sobre estrelas

(aguarde os próximos poemas deste livro eletrônico inédito "Pequenos Poemas")

17 de maio de 2025

Pequenos poemas

Apresentação

 
Passei a vida toda procurando uma forma de encontrar a medida certa, a palavra correta, a atitude aplausível e o gesto coerente com tudo que acredito.

Sempre existiu uma linha tênue entre o que é profundo e superficial. Em toda minha vida procurei me expressar da melhor maneira possível. O nosso conteúdo vai muito além da expressão verbal ou até mesmo corporal. Achar a medida certa. Esse foi meu objetivo ao escrever esses poemas. Foi um exercício diário, árduo e, ao mesmo tempo, prazeroso; nessa altura da minha vida é muito bom impor um desafio. Tendo em mente apenas um objetivo, um propósito, ser o mais claro possível, não cabe a expressão prolixo, não desperdiçar palavras com ideias nebulosas. É assim que a comunicação hoje exige e cobra a todo instante. O tempo já foi dinheiro, hoje, não é mais; vivemos na era do "megabit" que é nada mais do que tempo e espaço no menor "chip" possível.

Apresento-lhe meu livro eletrônico intitulado "pequenos poemas" não de pequenez, mas de sucinto, enxuto e direto.

a promessa

Lembro-me quando Jango
vice-presidente da República
prometeu a reforma agrária
terra para todo mundo plantar
Muitos, naquela época, prometiam
dar-se em casamento depois do decreto.

O golpe militar, pensando no bem da Nação
fechou o congresso para não aprovar a lei.

 

a sede do mar

 Quer saber o tamanho
do seu mundo?
– meça o deserto de sua alma!
 

não pode ser maior que a sede do mar não!

 

a vaca e o boi

 Não há o que fazer
a vaca já foi para o brejo
só a carne do boi é exportável.

 

ah, tempo...

Se para você o que guardo são utopias:
ruas descalças, cirandas infantis e serenatas apaixonadas
perdoa-me, o que nos separa não é questão de gosto
ou outra coisa qualquer
mas, simplesmente o tempo...

 

bastam

O tempo do amor acabou
hoje, vamos juntar os bens
com cláusulas bem claras
lirismo não fica bem
abrir portas de carro nem pensar!}
dois corpos na cama já bastam.

(aguarde os próximos poemas deste livro eletrônico inédito "Pequenos Poemas")